E lá ia ela, como fazia todos os dias, subindo a rua empedrada, amparada na fé e na bengala. Tinha descido os degraus de pedra daquela casa, bela casa, deixado os recados à Joaquina, pequena e leal Joaquina, o guardanapo em cima do jarro da água, que lhe haveria de almofadar a sesta depois do almoço. E depois subia, direito à Sé. E rezava, direito a Deus. E olhava, direito a mim. E eu, que não tinha bengala, nem fé, nem jarro para dormitar, olhava para ela, para a avó Aurora e gostava daquela casa, daquela rua e daquela igreja grande onde, no adro, marquei os primeiros golos da minha vida…

…de um lado, o bispo. Do outro, os homens de amianto. Dizia-se que eram os mais prontos quando chamados. Estou a vê-los entre o esvoaçar dos pombos, confusos, eles (os homens, os pombos) e a paz do senhor, em sobressalto pela sirene da sé até à serra. E o bispo, paredes meias com aquelas vinte e oito janelas e pilastras, rodando os polegares, desfiando o latinório, baixinho, pianinho, apagando o fogo de outras almas. depois, mais tarde, os homens regressariam exaustos. E a sé voltaria a ter os seus pombos. E os pombos as suas vinte e oito janelas. e o bispo ali continuaria na sua sempre eterna e divinal inspiração, paredes meias com o cheiro e o fumo da terra queimada…

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