Curiosa a forma como Mário de Sacramento se apresenta neste livro. Ou nos apresenta este seu livro. Diz-nos, na ‘Vinheta’, ter morado na infância junto às casas de ensaio dos novos e velhos filarmónicos locais. Que gostava de os ver, “… em fatos de trabalho, rumorosos e barbudos, sopesando os instrumentos envoltos em guardas de chita ou cotim…”. De os ouvir “… pela noite dentro, ensopar o silêncio em saliva e suor…”

Bastaria ler esta ‘Vinheta’ para nos apetecer não faltar ao ensaio. Continua Sacramento: “… Como eles, sou e serei um ensaísta de retalho… Ensaio como eles em horas de folga, manhãs de domingo e serões de semana. E como eles sofro o terror da batuta, gavião incansável do melhor que o peito dá e o sopro leva. Aqui lhes deixo o meu solfejo. Aos novos e aos velhos. Homens de fé e surdina. De trenos e amavios. Matutos e salivares. Com sonho ensacado em chita…”

E depois digam-me lá se não havia gente que escrevia bem que se fartava. E que há livros que dá vontade de não vender, mas de dizer que existem. Este é um deles. O livro, que ando a ler, e o autor, que nasceu há cem anos.

Partilhe nas redes sociais
0

Carrinho