Como se não devesse ter partido mais cedo, tal a missão que lhe estava destinada, António Vieira que nascera em Lisboa, ao que dizem numa modesta casa na zona da Sé, veio a falecer em Salvador da Bahia quase com 90 anos, em tempos em que a esperança média de vida seria naturalmente muito curta.

Jesuíta, pregador, missionário e diplomata, correu meio mundo, falando aos homens e pregando aos peixes quando aqueles o não ouviam. Figura marcante de todo o século XVII, nasceu em pleno domínio filipino e partiu cedo para o Brasil, balanceando a sua vida entre cá e lá, ora na luta contra a Inquisição e protecção dos Cristãos Novos, ora na defesa intransigente dos Índios do Pará e Maranhão e no duro combate à sua escravidão.

Expulso e deportado para Lisboa, para António Vieira, «as palavras hão-de ser como as estrelas». E foi com elas e por elas que, persistente e utopicamente lutou, resistiu, escreveu e pregou.

«…o lavrador que comer toda a novidade do ano, não terá que semear no ano seguinte. Se o oficial gastar quanto ganha na saúde, com que se há-de curar na enfermidade?…. Assim como o juiz não pode exceder as leis do rei, assim o rei não pode exceder as razões da razão e da justiça…”

A sua vida foi, em si mesmo, uma grandiosa obra. E a sua obra dificilmente retratará a grandeza da sua vida.

(passa hoje mais um ano sobre a sua morte).

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adelino pires | (excerto de texto publicado há tempos no Mediotejo e agora adaptado)

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