O Ary brincava com as palavras como só alguns, poucos, o sabem fazer. Pegava nelas, amarrotava-as, desdobrava-as, trocava-lhes as voltas, dava-lhes sentido. Sorria ou chorava conforme a laranja fosse amarga, mais ou menos doce. O Ary tinha um cravo na ponta da caneta. Que ia regando com o que bebia. E assim escrevia. Num misto de sonho e utopia. A passo. A trote. Ou mesmo a galope, qual cavalo à solta de crinas inconformadas. Sem freio. Nem meio. No extremo é que estaria a virtude. Pintado de vermelho rubi. Daquela cor do Ary. Dos poucos amigos do peito. Dos muitos que se diziam de perto. De tantos que, afinal, o ouviam. Dito por ele. Cantado por outros. O Ary viveu na terra com saudades do céu. E partiu. Cedo. E assim ficou. Poeta. Com um cravo na ponta da caneta.

(passa hoje mais um ano que partiu)

adelino cp, janeiro.18.22

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