Não fora o Diabo e seria suposto estar a festejar-te. Não sei se por Seide se na Samardã, ou mesmo na ralação da Cadeia, mais perdição que Relação por entre pilantras, sinetas ou ferrolhos. Deixaria até que ajeitasses o monóculo cofiando o bigode, posando para a foto da praxe de sorriso maroto e caneta afiada.
Não fora o Diabo, entretinha-me pelo Minho das tuas novelas, perdia-me nas noites das tuas insónias, escondia-me nas trevas das tuas angústias. Talvez tomasse a liteira por algumas horas, balouçando nos fraguedos daquele Marão, bisbilhotando amores que por lá descobriste. Da Teresa, da freira, de tantas. Não fora o Diabo e talvez mergulhasse na utopia com que embrulhavas casórios, uma dúzia, logo doze, de todos os gostos. E felizes. Assim o escrevias. Não fora o Diabo e esperaria por ti. Seria bom ouvir-te. Mesmo que a rabujares por falta de amores. Mesmo que a divagares, cultivando o talento. Mesmo que prosando até à penumbra.
Mas veio o Diabo, Camilo. E agora não posso. Ficará para o dia em que a tempestade passar. O tempo é agora de duros marinheiros, mãos calejadas e olhos vidrados nas ondas revoltas. O tempo é um sopro. E o vento agora não sopra a favor. Desculpa Camilo se não te festejo como devia e tu merecias. Mas há a morte ali à espreita e também o resto. Há gente a lutar pela vida de tantos e também o resto. Há um tempo para tudo e também o resto… Sabes Camilo, não fora o Diabo e esperaria por ti. Até que o teu anjo voltasse a cair.
(escrito há tempos, em 16/3/2020 e hoje recuperado naturalmente…)
adelino cp
15.Set.23
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