Regresso aos lugares do costume. No café, a senhora que escolhe sempre a mesa mais afastada da porta da rua parece conformada por estar ocupada. Não ela, mas a mesa. Que ela, a senhora, tem tempo de sobra. Senta-se quase sempre naquela mesa afastada como vigia de quem entra, de quem sai, ou fica mais tempo. A senhora sabe um pouco da vida de todos e quase todos sabem um pouco da sua vida também. Sabem ao menos das suas manhãs. Do tempo que passa na mesa mais afastada da porta da rua. Ao fundo, bem ao fundo da vida das outras pessoas. Olhando-as de perto. Fazendo parte delas. Ninguém sabe das tardes ou noites da senhora da mesa do fundo. Calculo-as tranquilas. Talvez a fazer paciências, a dormitar o terço, a pedir que seja manhã para voltar ao seu lugar de vigia. Ali, naquela mesa afastada da porta da rua. O lugar do costume mais perto do mundo.
adelino cp
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